Como está sendo a reabertura da economia global?
10/07/2020
Gabriela Santos
Desde o final de março, os mercados globais vem subindo, com todos os principais ativos recuperando mais de metade das suas perdas anteriores no ano. Alguns ativos, como ações americanas e asiáticas e dívida corporativa investment grade americana, já recuperaram mais de 80% de suas perdas.
Dois fatores ajudam a explicar essa reviravolta tão rápida e forte. Parte da explicação está no apoio monetário e fiscal que vimos ao redor do mundo durante esse período. Adicionalmente, as curvas de novos casos do COVID-19 começaram a melhorar em países na Europa e nos Estados Unidos, os permitindo a se unir á Ásia no processo de reabertura de suas economias. Com isso, a economia global começou a se recuperar.
Mas a história não termina aqui. O declínio na taxa de crescimento de novos casos é o começo de um novo capítulo. Este novo capítulo será longo e complicado, já que o problema da saúde continua sendo o principal protagonista a cada virada no enredo.
Como ainda não há vacina ou tratamento bem-sucedido, será impossível voltar à vida normal da noite para o dia sem causar outro pico de novos casos. A retomada da economia global não acontecerá de uma vez, mas será gradual: um processo lento com diferentes intensidades para cada setor e país.
Dada a necessidade de continuar a manter uma certa distância entre as pessoas, vemos que alguns setores estão se recuperando mais rápido que outros, como construção e o setor manufatureiro. Ao contrário, no setor de serviços, vemos as áreas de restaurantes, lazer, hotéis e viagens aéreas ainda operando bem abaixo do normal. Provavelmente, isso continuará a ser o caso até termos uma vacina distribuida.
Regionalmente, vemos que cada país se encontra em um ponto diferente neste capítulo. Para que uma economia volte a funcionar e que a confiança retorne de maneira sustentável, é fundamental que haja um plano para a saúde. Além de uma desaceleração em novos casos, é crucial que os países tenham capacidade suficiente para testar a população, além de uma ampla capacidade de rastrear os indivíduos infectados e seu contato com outras pessoas.
Alguns países na Ásia, como China, Coreia e Taiwan, se destacam por estarem particularmente bem posicionados: com taxas muito baixas de crescimento nos casos, um pequeno percentual da população infectada, capacidade de testagem e programas de rastreamento de contatos. Com isso, a atividade no norte da Ásia já vem se recuperando desde março e a mobilidade nesses países está agora menos de 10% abaixo do normal.
Depois da Ásia, vemos a Zona do Euro como particularmente bem posicionada, principalmente no que diz respeito ao baixo crescimento de novos casos e à sua capacidade de testagem. Com isso, a atividade em países europeus vem se recuperando rápido desde maio, especialmente em países antes muito afetados pelo COVID-19, como Itália, Espanha e França. Com isso, a mobilidade na região melhorou muito passando de quase 80% abaixo do normal no final de abril para 10% abaixo do normal agora. Até agora, não temos visto um aumento relevante de novas infecções.
A experiência de reabertura nos Estados Unidos tem sido mais complicada, com estados americanos tomando decisões individuais e em velocidades diferentes. Os estados que abriram rápido demais, estão agora tendo que dar uma pausa nos seus planos ao verem um aumento em novos casos. Com isso, vemos que a mobilidade nos Estados Unidos começou a se recuperar rápido em maio, porém parece estar se estabilizando a um nível de 20% abaixo do normal nas últimas semanas. Felizmente, os Estados Unidos têm o espaço fiscal para continuar a apoiar as pessoas e companhias afetadas durante sua longa recuperação.
Por fim, vemos a mobilidade ainda bem limitada em países que ainda estão tendo dificuldades em controlar a primeira onda do COVID-19, incluindo países na América Latina e alguns países no sul da Ásia, como a Índia. Nessas regiões, a recuperação está sendo adiada e deverá ser ainda mais lenta.
A recuperação econômica e de resultados das empresas será lenta até termos uma vacina disponível, provavelmente em 2021. Até lá, a história ainda será difícil e com muitas diferenças abaixo da superfície entre setores e regiões. Investidores devem tomar cuidado em escolher as companhias que irão sobreviver o ano do COVID-19. Isso implica focar em companhias com balanços sólidos e mais nos setores de tecnologia e saúde. Nesse sentido, o mercado americano se destaca, com esses dois setores representando 42% de seu índice acionário. Adicionalmente, Ásia e Europa merecem um olhar extra por sua recuperação econômica mais avançada e sustentável.
